Estratégia de Taiwan Diante da Invasão Anfíbia: Operações Contra Desembarque Anfíbio - Parte 4
Continuação da parte 3: https://elpempt.blogspot.com/2025/05/curso-de-acao-militar-da-rpc-contra.html
Num ambiente permeável como é o mar, é sempre possível a ocorrência de incursões ou de bombardeios navais inimigos sobre a área terrestre adjacente ao litoral. Essas incursões podem exigir a intervenção de forças destinadas à defesa do litoral, tais como: aviões de reconhecimento e ataque, navios armados de mísseis e força terrestre para se contraporem às ações de desembarque. No caso de uma operação anfíbia inimiga, deve ser considerada, também, a possibilidade de emprego de força terrestre de vulto.
As operações de defesa contra desembarque anfíbio (Op C Dbq Anf) são, normalmente, operações conjuntas ou combinadas em que estarão presentes forças navais, terrestres e aéreas. A defesa eficaz contra um desembarque anfíbio (Dbq Anf) começa pela atuação da Força Naval e da Força Aérea contra a esquadra inimiga, o mais longe possível. Desse modo, envolve o emprego de meios heterogêneos, o que exige uma coordenação detalhada para cumprir a missão com o menor dispêndio de meios e maior eficiência.
A operação de desembarque anfíbio pelo inimigo tem como principal finalidade a conquista de cabeça de praia, para permitir o lançamento de ofensiva terrestre, seja no próprio TO ou na ZI (Zona Interior). Dessa forma, o Dbq Anf inimigo possibilitaria o lançamento de uma força terrestre contra o flanco ou a retaguarda, obrigando as forças amigas a manobrar elementos de combate para enfrentá-lo.
O período de maior vulnerabilidade do Dbq Anf está compreendido entre a formação da força naval atacante para lançar as embarcações de desembarque e o início da conquista da cabeça de praia. Para opor-se eficazmente a um Dbq Anf, a tropa defensora deverá procurar desgastar e desorganizar o inimigo pelo fogo durante seu deslocamento para a praia nas embarcações de desembarque, cobrar alto custo em perdas e danos na iminência do desembarque e, caso este se concretize, limitar a cabeça de praia e atacar para destruí-la.
Em resumo, para se deter uma operação de Dbq Anf inimiga, há necessidade de que:
- ➡️ A Força Naval e a Força Aérea atuem, o mais longe possível, sobre a esquadra inimiga;
- ➡️ Os meios de Artilharia da Força Terrestre atuem durante os preparativos do desembarque inimigo e sua execução;
- ➡️ A força terrestre impeça a consolidação da cabeça de praia e expulse a força inimiga;
- ➡️ Haja uma integração de ações das Forças Armadas durante todas as fases.
Uma OpAnf é um tipo de operação que nem precisa de um inimigo para dar errado, tal é o número de variáveis envolvidas e coisas que podem dar errado. Apenas para usar como exemplo, o tipo de operação combinada para tornar funcional o uso de helicópteros de ataque para Apoio Aéreo Aproximado, o PLA deve evitar a desconflitação do espaço aéreo tanto quanto possível, isso será extremamente difícil em um ambiente saturado com drones, mísseis, helicópteros e aeronaves de ambos os lados por todo o espaço aéreo no TO durante o Dbq Anf. Taiwan pode tomar medidas para tornar os desafios descritos acima ainda mais intransponíveis para o PLA.
Resumindo as Op C Dbq Anf, o defensor procurará desgastar o inimigo de todas as maneiras durante o desembarque. Essa parte da estratégia de desgaste forçará o inimigo a comprometer ainda mais seu apoio para a consolidação da cabeça de praia, cada vez mais que o inimigo se desgastar durante o desembarque, maior serão os desafios de manter e consolidar a cabeça de praia. Em uma operação altamente arriscado como uma OpAnf, as perdas não podem superar uma taxa de 25% da composição das unidades envolvidas na operação, um número de perdas aceitáveis muito restrito que se comparado as operações normais terrestres que podem suportar perdas de até 50% da composição das unidades sem perder a coesão militar e capacidade de combate. Se restringir as perdas humanas são fundamentais para uma OpAnf bem sucedida, as perdas materiais são ainda um implicador fundamental, como a perda de navios, principalmente os navios de apoio logístico para as ForDbq, afetando a condução das operações de desembarque e operações subsequentes.
Na Segunda Guerra Mundial e os conflitos armados após o seu fim forneceram muitos exemplos de desembarques anfíbios de várias escalas. No total, cerca de 30 missões operacionais e mais de 250 operações táticas foram realizadas durante a guerra. Na maioria dos casos, as operações de desembarque terminaram com sucesso e apenas cerca de 30 delas não tiveram sucesso. As razões do seu fracasso são explicadas, em primeiro lugar, por uma sobrestimação das capacidades das forças de AssAnf e por uma avaliação insuficientemente completa da preparação da defesa contra desembarque anfíbio do lado defensor. Especialistas militares dos EUA, independentemente do estado da defesa antidesembarque, consideram que o princípio principal e obrigatório dos desembarques é a criação de uma esmagadora superioridade de fogo em forças e meios (12:1) sobre os defensores tanto em terra como no mar e no ar.
Um exemplo da implementação deste princípio foi o desembarque anfíbio na ilha Iwo Jima durante a Segunda Guerra Mundial. A força de desembarque incluía duas divisões de fuzileiros navais, duas divisões de infantaria, mais de 90 unidades de embarcações de combate, transporte e desembarque, apoiadas por quase duas mil aeronaves. No total, as forças dos EUA incluíam mais de 71 mil pessoas. Ao mesmo tempo, 50 dias antes do Dia D (dia da tentativa de desembarque), começaram os preparativos para as áreas de desembarque. Os ataques aéreos foram realizados com frequência e número crescentes de aeronaves participantes do ataque.
Três dias antes do desembarque, começou a preparação da artilharia. Foram gastos 27 grandes transportes marítimos com munições. Dos registros do comandante da guarnição japonesa na ilha de Iwo Jima, general Tadamichi Kuribayashi, conclui-se que as tropas japonesas no início dos ataques aéreos somavam cerca de 43,5 mil pessoas e cerca de 100 aeronaves. Ao final da preparação da artilharia, as perdas de mortos e feridos somaram 20 mil pessoas. Três aviões conseguiram decolar (dos quais apenas um era caça). Não havia grandes navios de guerra na área da ilha. Assim, no início do desembarque, os americanos superavam em número as tropas japonesas em mais de três vezes e tinham superioridade absoluta em número de navios e artilharia.
Outro exemplo é a Operação Overlord para o desembarque de tropas anglo-americanas no norte da Normandia, onde os Aliados conseguiram criar uma superioridade mais de 20 vezes maior no número de tropas e uma superioridade absoluta em aeronaves e navios. Na operação de desembarque de Incheon na Coreia, a Marinha dos EUA e as tropas sul-coreanas tiveram uma superioridade de 15 a 20 vezes no número de tropas e uma superioridade absoluta em aeronaves e navios. Durante a invasão de Granada, a superioridade dos EUA sobre os defensores foi absoluta.
Hoje em dia, devido ao desenvolvimento dos meios de combate das forças terrestres e das forças navais, aumentando as suas capacidades de destruição de objetos localizados tanto em terra como no mar, bem como às crescentes capacidades da frota para efetuar desembarques numa costa não equipada, a escala das ações ofensivas e defensivas nas zonas costeiras aumentaram significativamente.
A principal unidade tática de combate dos Estados Unidos é atualmente uma divisão (mecanizada, tanque, aerotransportada) que, segundo o Manual de Combate dos EUA, pode atuar de forma independente ou participar de uma operação ofensiva, defensiva ou antidesembarque como parte de uma operação combinada exército de armas (C Ex) na direção costeira.
Na realização de qualquer uma delas, as operações de combate da divisão serão influenciadas pelas condições específicas das zonas costeiras, sendo as principais: a singularidade das condições físicas e geográficas; a presença de objetos importantes nas zonas costeiras, cuja captura ou retenção pode constituir o objetivo principal das operações de combate; participação em operações de combate de diversas forças navais e a necessidade de interação estreita com elas. Todos estes fatores complicam a condução das operações de combate nas zonas costeiras e criam dificuldades adicionais na repulsão dos desembarques anfíbios.
Etapas da condução da Op C Dbq Anf
Antes de tudo, o PLA tentará de todas as maneiras garantir a superioridade aérea, senão for ainda mais objetivo na tentativa de conquistar a supremacia aérea. Para isso, o PLA começará a bombardear todas as bases aéreas, bases navais, redes de radares de defesa aéreas e lançadores de mísseis, pontos de lançamentos de mísseis de cruzeiro do ROCA, entre outros alvos de alto valor. Todas as maneiras de Taiwan conseguir conservar e garantir a sobrevivência dos ativos de alto valor que serão os primeiros alvos na primeira salva de mísseis do PLA, forçará o desgaste para o inimigo. Unidades de defesa aérea móveis do ROCAF que permitem o rápido deslocamento dos pontos de posições implantáveis, caças do ROCAF que decolam e permitem operações a partir de rodovias, navios do ROCN que saem das suas bases navais para patrulhar regularmente mantendo a prontidão elevada, entre outros tipos de medidas pró-ativas que permitem Taiwan absorver o choque dos primeiros ataques obrigando o desgaste do PLA. Essa é uma parte crucial das operações, porque a iniciativa da guerra não tem retorno no ar e no mar, se Taiwan não conseguir manter fora do alcance dos mísseis do PLA seus ativos militares mais importantes, todas as ações subsequentes serão mais fáceis para o PLA. A questão permanece sendo como se comportará os ativos ISTAR do PLA, seja aeronaves, drones e satélites - tudo isso estará envolvido na campanha em Taiwan.
Dependendo da condução da campanha de bombardeio por parte do PLA e Taiwan ainda mantiver alguns de seus ativos do ROCAF/ROCN, o PLA enfrentará uma dura oposição se tentar desembarcar na ilha principal e nas ilhas periféricas, porque seus meios para conduzir uma OpAnf poderão estar sob o alcance da mira desses sistemas que sobreviveram a guerra aérea/naval durante a primeira parte do conflito. Aqui o atrito favorece o PLA contra Taiwan, especialmente se Taiwan não receber meios dos seus aliados como a Ucrânia vem recebendo, porque o PLA tem muito mais equipamentos militares do que Taipei, embora aqui dependa da sobrevivência dos meios por parte do ROC, a ajuda aliada para Taiwan pode ser um papel fundamental na defesa da ilha, mas isso é uma situação envolvente para a próxima parte da análise.
Aplicando a pior das hipóteses, embora Taiwan seja incapaz de sobreviver em meio ao imenso poderio aéreo/naval do PLA, ainda existem muitas formas de tornar o desgaste favorável para Taiwan. Por mais que Taiwan possa perder a guerra no ar e no mar, o teatro em terra ainda pode oferecer condições para o ROC manter ma postura defensiva ativa. A RPC precisaria embarcar suas unidades em navios que podem ser alvos de fogo do ROCA, os mísseis de cruzeiro e balístico são fundamentais para manter essa capacidade ativa mesmo se perder a guerra aérea/naval, a questão é se Taiwan manterá os lançadores e as munições de reserva a salvo do fogo do PLA. Essa seria uma outra maneira de manter o desgate do PLA.
A guerra na Ucrânia permite algumas lições valiosas para o ROC. Os drones são parte fundamental das operações militares, os drones kamikazes são uma ferramenta multiplicadora de força, um operador sozinho consegue conduzir ataques com pequenos drones contra combatentes inimigos em veículos blindados. Para desembarcar em Taiwan, o PLA terá que conduzir a OpAnf da praia para a costa, ficando vulnerável nessa janela, seria interessante para o ROCA manter o desgaste atacando os blindados e veículos que desembarcam na praia, uma janela que oferece oportunidades compensadoras para Taiwan. Como já foi dito algumas vezes, a perda de 25% de combate das unidades que chegam a praia são baixas que comprometem as operações subsequentes, os drones assim como a artilharia permitirá o ROCA a manter o desgaste durante o desembarque.
Mesmo ainda que o PLA consiga desembarcar na praia, a consolidação da cabeça de praia ainda terá que ser conquistado, um avanço de 30 km para a ZI ou mais terá que ser necessário, o que ainda permite o ROCA manter o desgaste. Força de segundo escalão do PLA estarão desembarcando na praia, enquanto se o ROCA mantiver-se vivo por meio de ataque de artilharia e drones, ainda estará envolvido no desgaste, tentando impedir a consolidação da cabeça de praia.
As chances mais oportunas do ROCA para ganhar o desgaste é atacar os meios que transportam as unidades do mar/ar para a terra. Ou seja, aeronaves, helicópteros e navios que transportam as unidades e oferecem suporte logístico ao PLA, se forem atacados e destruídos, permitirá o ROCA sangrando o PLA, impedindo ele de conquistar a cabeça de praia, esse desgaste favorece o ROCA, porque cada vez menos o PLA terá meios de sustentar a OpAnf. Mesmo se o ROCA for incapaz de fazer isso, manter o desgaste de tropa por tropa contra o PLA ainda é a resistência a ser realizado por Taiwan, porque a superioridade numérica do ROCA permitirá manter-se vivo nesse desgaste e a logística é favorecida para quem já está no teatro daquele que tem que atravessar o estreito para sustentar a operação em terra.
Aqui é um exemplo dessa estratégia.
Este autor coletou cuidadosamente publicações profissionais dos militares ROC. É óbvio que eles estão analisando e resumindo a experiência da guerra ucraniana, tentando transformar cidades em fortalezas para operações ocultas de unidades terrestres e aéreas.
No passado, Taiwan mencionava a tática de usar garagens subterrâneas para esconder tanques. Agora, eles estão contando cuidadosamente o número de garagens subterrâneas e túneis que podem ser usados. Além disso, eles também mencionaram as táticas de guerrilha dos ucranianos e listaram alguns casos, mas esses casos eram principalmente ações destinadas a assassinar legalistas.
Aqui é um outro exemplo para ilustração. De acordo com Wang Shiyi, as forças blindadas do ROCA começaram a partir 36 horas antes do dia D (dia do desembarque). Então, eles tentarão se esconder em um abrigo a 10 km da zona de guerra e avançarão para a linha de espera a 4 km do litoral quando as forças de desembarque começarem a se formar. Assim que as tropas de desembarque estiverem à vista, os tanques imediatamente lançarão os projéteis. Se eles ficarem sob fogo intenso, eles recuarão e usarão a cidade para se proteger.Parece que o ROCA se concentrou na guerra urbana. Observem que essa tática mostra como o ROCA pensa em termos de Op C Dbq Anf, eles poderiam usar a mobilidade para tentar sobrepujar o PLA na praia enquanto ainda detinha superioridade numérica, mas acontece que aqui não se sabe até onde se permite obter uma taxa de sobrevivência com a aviação do PLA oferecendo CAS (Apoio Aéreo Aproximado) para as unidades que desembarcam em terra, essa é uma tática planejada para ser executado quando não podem se movimentar livremente sem oferecer riscos a si próprios por causa dos meios aéreos de reconhecimento e vigilância do PLA.
Veja que essa condição que eles estudam é que a praia já não poderia ser defensável por causa dessa condição (superioridade aérea) imposta pelo PLA, mas acontece que a AOA ainda é uma área de operações contestáveis por parte do ROCA, permitindo manter o desgaste durante o desembarque na praia. Sempre que surgir uma oportunidade para operações ofensivas contra a cabeça de praia, o ROCA terá que agir, pois uma vez que a ação do PLA tenha sucesso em consolidar a cabeça de praia que pode permitir o prosseguimento de operações subsequentes que, em uma situação normal, deveriam encontrar menor resistência e atingir o objetivo estratégico consolidado em seu planejamento. Isso ocorrendo poderia desequilibrar o conflito em favor do PLA, independentemente do ROC se esconder em áreas urbanas.
Uma vez que o PLA conquiste totalmente a cabeça de praia na costa sem nenhum desafio, o ROC já é um exército derrotado, mesmo se escondendo em áreas urbanas. Para evitar isso, mesmo que o PLA consiga desembarcar na praia, o exército de Taiwan deve e fará ataques a essa cabeça de praia como forma de limitar o desembarque anfíbio. Dependendo de como eles eles obtenham sucesso nessa estratégia, eles podem até diminuir a largura dessa cabeça de praia usando o fogo superior inicial para derrotar o PLA preso entre o ROC e a praia.
Para a facilidade de Taiwan é que eles poderiam sequer tentar atacar o continente chinês para ganhar a guerra. Se trata mais de absorver as perdas, se adaptar e desgastar o PLA o quanto mais possível for para prolongar a OpAnf, seria a única maneira de Taiwan com poder militar inferior e isolado no mar ter alguma chance de derrotar o PLA. Tudo o que Taiwan pode fazer para ganhar a guerra é impedir o desembarque e a conquista da cabeça de praia por parte do PLA, uma vez que Taiwan saia desse conflito mantendo a ilha sem ser conquistado, sairá vitoriosa, mesmo que o PLA ainda fosse uma força superior, a simples derrota do PLA é impedir que os objetivos políticos da RPC fossem alcançados, a conquista de Taiwan.
A Op C Dbq Anf oferece oportunidades para Taiwan manter-se ativo no conflito. Tudo vai depender de como Taiwan - como sociedade e exército - irão se preparar para o conflito que estaria por vir, tornar suas capacidades superiores ainda maiores e reduzir as lacunas de desvantagens que tenham em relação ao PLA. Taiwan ressurgindo do conflito independente é a sua vitória e a derrota da RPC.
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