A força militar que a China busca para alcançar o exército de classe mundial até 2049

 Há teorias e afirmações acerca do desenvolvimento do PLA em todas as instâncias, com algumas análises um tanto equivocadas, tentando replicar o mesmo método de organização que um exército ocidental teria, gerando assim uma interpretação errônea das capacidades que o PLA quer alcançar para criar esse exército de classe mundial.

A China, ainda em 2004, informou em seu documento que a Força Aérea, Naval e de Mísseis receberiam maior atenção e prioridade em comparação à Força Terrestre, historicamente mais poderosa que exercia o domínio sobre os demais ramos. O mesmo documento, na edição publicada em 2015, insistiu em mudar o foco terrestre, dando maior destaque ao domínio marítimo. Ele também destacou a predominância da informação e a importância de vencer guerras locais computadorizadas, com ataques precisos e operações conjuntas.

No documento "Science of Military Strategy", lançada em 2013, os temas mais proeminentes foram integração do espaço, ciberespaço e guerra eletrônica. As guerras seriam pequenas, de baixa intensidade e irregulares. Em 2020, durante o Plenário do Partido Comunista Chinês, a China anunciou novos marcos para a modernização. O primeiro deles, em 2027, quando se espera estar operando em rede, em um sistema de guerras inteligíveis. Para tanto, o objetivo é, até então, acelerar a integração da mecanização da força com a informatização e a inteligência, ao mesmo tempo em que se busca impulsionar a modernização da doutrina, das organizações e dos equipamentos de guerra. Até 2035, o objetivo é concluir a modernização da doutrina, da estrutura organizacional, do pessoal militar, das armas e dos equipamentos; isso é “basicamente” concluir a modernização que o PLA tanto almeja. O marco final, em 2049, é quando a transformação estará completa e o Exército de Libertação Popular (ELP/PLA) terá se tornado uma força de classe mundial.

Modelos de Planejamento Estratégico e Poder de Projeto

Na última década, os projetos de força chineses incluíram estruturas conjuntas. Na China, em 2015, foi criada a Força Conjunta de Apoio Logístico (People's Liberation Army Joint Logistics Support Force), com o propósito de promover melhor integração do apoio logístico e da Força de Apoio Estratégico (dissolvida em 2024 e dividido em três ramos), que cumpre as tarefas de alerta precoce, gestão de satélites e Defesa nos domínios eletromagnético e cibernético. Na China, o sistema de regiões militares foi substituído por cinco comandos de teatros de operações. Os teatros foram delimitados espacialmente com base nas percepções de ameaças.

Na China, a importância atribuída aos órgãos centralizadores em seu processo de reforma é compartilhada, ainda que de formas distintas. Na China, com o propósito principal de prevenir casos de corrupção e reforçar a disciplina e os valores, a Comissão Militar Central (CMC) é responsável por operar os teatros, coletar informações de departamentos, comissões e escritórios e, fundamentalmente, estar à frente dos processos de supervisão, auditoria e inspeção.

A preocupação em estar na vanguarda da corrida tecnológica e, ao mesmo tempo, incentivar a produção da indústria de defesa nacional é compartilhada pela China. Na China, em 2016, foi anunciado um repensar da educação militar com foco em áreas como: ciência da computação; tecnologia da informação; e estudos aeroespaciais, com destaque para essa nova organização sendo a National Defense University e a National Defense Technology University. Além disso, foi criada a Comissão de Ciência e Tecnologia (Science and Technology Commission), responsável pela coordenação militar com especialistas civis treinados em áreas tecnológicas críticas. Também foi criado o Departamento de Desenvolvimento de Equipamentos (Equipment Development Department), responsável por fiscalizar o desenvolvimento de ferramentas e impulsionar a pesquisa. Em relação às tecnologias a serem utilizadas na guerra do futuro, há um esforço maior para desenvolver capacidades nos domínios espacial e aéreo.

Aqui formaremos um quadro resumo das reformas e reflexões:

  1. ➡️ Histórico: White Paper (Livro Branco) 2004/2015.
  2. ➡️ Metodologia de planejamento de força: Guerra Centralizada em Rede 2027, Modernização Básica 2035 e Transformação Completa 2049.
  3. ➡️ Organização: Força Conjunta de Suporte Logístico, Força de Foguetes, Força de Suporte Estratégico (agora dividida em três ramos separados) e Cinco Teatros de Comando.
  4. ➡️ Inovação: Educação Tecnológica, Departamento de Desenvolvimento de Equipamentos, Cibernética e Mísseis.

O primeiro aspecto que pode ser inferido do estudo aprofundado da China diz respeito à importância, tanto doméstica quanto internacional, da adoção de boas práticas na gestão e no planejamento da Defesa. Para tanto, realizar uma identificação clara de objetivos, vulnerabilidades, riscos, ameaças e potencialidades; alinhar sinergicamente objetivos, estratégia e doutrina, ponderando também as tecnologias e organizações necessárias para atingir os objetivos pretendidos; manter uma periodicidade na publicação de documentos e na periodização do planejamento, com o estabelecimento de metas, indicadores e a apresentação do orçamento; criar mecanismos de auditoria e esforços para uma prestação de contas frutífera; e aderir a práticas de transparência a fim de evitar a corrupção. Esses aspectos são essenciais para o planejamento frutífero da Defesa e a definição dos interesses estratégicos do país. Nesse sentido, sugere-se especificamente a inclusão de disciplinas no currículo das escolas militares que enfoquem boas práticas em governança e gestão da defesa.

O segundo aspecto revelado pelo estudo dos casos diz respeito ao papel do pensamento inovador no planejamento futuro da Força. A inovação no setor de Defesa tem como alguns de seus objetivos a busca por maior eficiência, a criação de competências específicas e a obtenção de vantagens sobre os oponentes. A inovação é um propulsor de mudanças, seja nas armas de combate, na forma de lutar ou nos conceitos operacionais. Nesse sentido, uma cultura organizacional permeável à inovação, com valores que estimulem o aprendizado, a experimentação e o espírito empreendedor impulsionam novos produtos e processos. Em vista disso, recomenda-se a criação de ambientes de inovação, ou seja, espaços favoráveis ​​nos quais equipes conjuntas e multifuncionais se reúnam para lidar com dilemas de inovação, facilitando um diálogo profícuo entre pesquisadores, tecnólogos e autoridades, nos quais sejam apresentadas soluções tecnologicamente viáveis ​​e operacionalmente eficazes e que, em última instância, busquem atingir os objetivos traçados na política de defesa.

O terceiro ponto que aparece na análise está relacionado à atuação conjunta das Forças. A integração das habilidades de combate de cada uma das Forças é essencial para a atuação no futuro ambiente de guerra. Para tanto, uma orientação top-down, cujas decisões são tomadas pelo alto escalão do Ministério da Defesa, em consonância com o Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, e seguidas pelos demais membros das Forças, é um pré-requisito para a padronização doutrinária, proporcionando maior eficiência operacional. Por isso, sugere-se que esses órgãos elaborem um documento no qual seja articulada a futura concepção estratégica das Forças.

Nesse processo, é importante que possíveis divergências entre os ramos armados sejam resolvidas e perspectivas singulares sejam transcendidas, em prol do compartilhamento de valores e objetivos comuns. Fortalecer uma cultura estratégica que priorize a interoperabilidade requer medidas efetivas nas áreas de educação e treinamento, de modo a criar um verdadeiro “espírito conjunto” e harmonia entre todos os membros das Forças. Nessa perspectiva, as simulações ajudam a melhorar o planejamento e a coordenação nos níveis estratégico e operacional, da mesma forma que a oferta de treinamento e programas qualifica os militares para operar em conjunto.

Por fim, o elemento-chave para o sucesso de um processo de modernização/transformação com vistas à adoção de um novo modelo de força consiste em uma comunicação estratégica efetiva e contínua, na qual tanto a sociedade civil quanto as instituições militares tenham conhecimento das fases a serem percorridas, objetivos a serem alcançados e recursos a serem comprometidos. De modo que o compartilhamento de informações e dados, em momentos oportunos, proporcione a credibilidade e a confiança necessárias à continuidade das ações.

Se eu tivesse que definir em poucas palavras a força futura do PLA é uma força centralizada, mas muito especializada, e todas as reformas do PLA me levam a acreditar nessa abordagem estratégica para o planejamento da força futura do PLA. Desde 2015, a China vivenciou a maior reforma de sua história em suas Forças Armadas e, entre as mudanças ocorridas, a mais evidente se refere à substituição das antigas Regiões Militares por Teatros de Operação, que possibilitam a ação conjunta do Exército, Marinha e Força Aérea, tanto em tempos de paz quanto de guerra. Somam-se a isso avanços consideráveis ​​na qualificação de pessoal, após uma redução significativa de efetivo, bem como um aumento significativo no orçamento dedicado à Defesa, o que permitiu ao país estar na vanguarda tecnológica.

Em 2004, na mesma linha, o Livro Branco chinês chamou a atenção para a necessidade de priorizar forças navais, aéreas e de mísseis e enfatizou a necessidade de aumentar o orçamento de outras forças. Em 2013, a edição Science of Military Strategy, principal publicação doutrinária da China, recomendou que o PLA integrasse o espaço, o ciberespaço e a guerra eletrônica em suas operações contra inimigos. Ele também identificou a predominância de oficiais da força terrestre em postos de comando como um obstáculo à ação conjunta das forças, cujas perspectivas seriam sub-representadas. A soma desses entendimentos culmina no projeto de uma Força integrada capaz de lutar e vencer “guerras locais computadorizadas”, segundo a edição de 2015 do Livro Branco, que reiterou a necessidade de romper com o pensamento tradicional e mudar o foco da terra para o mar. O mesmo documento também identificou ameaças regionais que a China provavelmente enfrentaria, incluindo potenciais conflitos terrestres, como na Península Coreana, a leste; Afeganistão e Ásia Central, a oeste; e Caxemira, ao sul. A independência do Tibete e de Xinjiang também foram citadas como desafios à segurança dentro das fronteiras terrestres chinesas.

Por isso, a atual estratégia militar chinesa visa preparar o ELP para os cenários mais complexos e difíceis, de forma que entenda que a capacidade de controlar crises e vencer guerras é fundamental para uma Força Armada. Para tanto, reafirma a importância de uma força nuclear para dissuasão e defesa do país, bem como a relevância do fortalecimento do poder cibernético para o controle da informação e segurança nacional.

Soma-se à situação acima o ritmo acelerado da revolução global nos assuntos militares e o desenvolvimento de novas tecnologias, lado a lado, com o desejo de melhorar a capacidade de conduzir operações conjuntas. Em 2014, foi estabelecido um grupo com os propósitos de: identificar os pontos fracos do ELP; pensar em uma nova estrutura organizacional para o ELP; e propor uma reforma militar. Dentre os problemas elencados, destacou-se o déficit de controle e supervisão, por parte dos líderes responsáveis ​​por executá-los, bem como dos órgãos criados para essas funções. Os mecanismos de controle eram corruptos, altos funcionários não respondiam ao Partido, assim como as regras eram ineficientes. Melhorar a integração das relações civis-militares era mais um ponto em que precisariam se concentrar, especialmente na área de pesquisa e desenvolvimento de defesa. A busca por maior sinergia e integração entre a base industrial e comercial, a incorporação de tecnologias de uso dual e o aprimoramento dos sistemas de inovação eram tópicos que demandariam atenção. As reformas deveriam, portanto, corrigir esses e outros problemas.

A fase inicial da reforma focou diretamente nos três pilares organizacionais do PLA – os serviços, a Comissão Militar Central (CMC) e o sistema de regiões militares. Primeiro, em dezembro de 2015, foi anunciada a criação de três novas forças. Com o objetivo de corrigir a descentralização logística observada e fornecer comando, controle, comunicação, inteligência, vigilância e reconhecimento para comandantes no domínio informacional (incluindo espaço e ciberespaço), a Força de Apoio Estratégico foi estabelecida, com o propósito de realizar tarefas como avanço de alerta, gerenciamento de satélite e defesa nos domínios eletromagnético e cibernético, além de integrar forças de guerra eletrônica, que estavam, até então, dispersas em diferentes armas.

Por sua vez, com o objetivo de auxiliar unidades em teatros de operação e promover melhor integração do suporte logístico em operações conjuntas, foi criada a Força Conjunta de Suporte Logístico. Da antiga Segunda Força de Artilharia, surgiu uma nova Força, a Força de Foguetes, que é vista como capital para o status de poder do país, para a dissuasão estratégica chinesa e um marco importante na segurança nacional. Em segundo lugar, em janeiro de 2016, Xi Jinping anunciou a desativação e substituição dos quatro Departamentos Gerais por quinze departamentos funcionais, comissões e escritórios, que devem se reportar diretamente à CMC.

Os novos departamentos são responsáveis ​​pela supervisão geral do PLA, as comissões supervisionam questões específicas e os escritórios realizam o planejamento e a administração das atividades principais. Nessa remodelação, o maior impacto ocorreu no antigo Departamento Geral de Pessoal, que teve suas tarefas redistribuídas e seu efetivo reduzido. O antigo Departamento Geral de Pessoal foi renomeado para Departamento Conjunto de Pessoal, com controle direto da Comissão Militar Central (CMC), a mais alta organização de Defesa Nacional do país, fortalecendo os laços de controle. O novo departamento ficou encarregado das atividades relacionadas às operações e análise de inteligência. Por sua vez, o Departamento de Gestão de Treinamento e o Escritório de Planejamento Estratégico são responsáveis ​​pelo treinamento, mobilização e planejamento estratégico.

Terceiro, o sistema anterior de regiões militares, essencialmente vinculado às forças terrestres, foi substituído por cinco teatros de operação, com foco em operações conjuntas, de treinamento e de guerra. Os teatros foram delimitados espacialmente, com base nas percepções de ameaça, sendo organizados como: Comando de Teatro Oriental (Estreito de Taiwan e Mar da China Oriental), Comando de Teatro Sul (Mar da China Meridional), Comando de Teatro Ocidental (terrorismo na Ásia Central, Teatro de fronteira sino-indiano e proteção de armamentos e equipamentos na região), Comando de Teatro Norte (península coreana) e Comando de Teatro Central (suporte a outros teatros).

Nos teatros, PLAGF, PLAAF e PLAN agora respondem a duas cadeias de comando: operacionalmente, estão sob a direção de comandantes de teatro, ou seja, há supervisão por unidades combinadas dos três ramos - um comando conjunto - em cada Teatro. Administrativamente, eles se reportam ao seu comando direto. Em suma, houve uma bifurcação de autoridade, na cadeia administrativa, a autoridade vai da Comissão Militar Central para as Forças e tropas, enquanto, na cadeia operacional, a direção é da CMC para os Teatros e tropas.

A criação deste mecanismo visa permitir que as forças alternem rapidamente entre operações de paz e guerra, sem a necessidade de estabelecer um comando temporário para isso. Em tempos de paz, os teatros se concentrarão em treinamento conjunto, incluindo testes e aprimoramento de sistemas. Vale ressaltar que os comandantes de teatro serão responsáveis ​​pelo planejamento de guerra e treinamento conjunto, relegando o papel de provedores de força aos comandos de força.

Após uma reunião de trabalho do CMC sobre os caminhos da reforma militar em dezembro de 2016, o PLA iniciou a segunda fase de mudanças, que afetariam o tamanho, a composição e o pessoal. Ainda em 2016, foi anunciado um repensar da educação militar. Mudanças curriculares foram adotadas para focar em habilidades práticas, em áreas como Ciência da Computação, Tecnologia da Informação e Estudos Aeroespaciais. Como resultado, os departamentos relacionados às forças terrestres reduziram o número de novos membros, assim como os departamentos de logística e suporte. Por outro lado, o número de alunos admitidos em cursos de aviação, naval e tecnologia aumentou. Um aumento semelhante ocorreu em departamentos relacionados a tecnologias espaciais, radares e drones.

Com o objetivo de qualificar melhor comandantes e tropas, preparando-os para julgar situações, tomar decisões operacionais e lidar com situações inesperadas, os 77 institutos de treinamento militar foram reduzidos a 43, quando muitos foram integrados à National Defense University (DNU) e à National University of Defense Technology. A DNU projetou um novo curso para treinamento conjunto de oficiais de nível médio e inaugurou uma linha de especialização em operações conjuntas para comandantes.

As reformas também buscaram reduzir a desproporcionalidade entre as forças. Para isso, mesmo que o PLAGF continue predominante, a proporção em relação ao efetivo de outras forças deve diminuir, ou seja, haverá mais efetivos do PLAN, PLAAF e PLARF, especialmente em postos de comando. Conforme afirmam fontes chinesas, a parcela do PLAGF declinou para menos de 50%. Isso representa o maior passo já dado para atingir a meta de equilíbrio da Força.

Nesse sentido, em 2017, foi anunciado um aumento do contingente do PLAN, visando à proteção marítima da Rota da Seda Marítima do Século XXI. E, no que se refere à aviação, foi criado o Airbone Corps (Corpo Paraquedista). Alguns regimentos foram reclassificados como brigadas, enquanto forças especiais e transportes foram organizados em brigadas separadas.

Além disso, foi anunciada a implementação do sistema de classificação militar para progressão na carreira. Também é discutida a implementação de um sistema rotativo, por meio do qual os oficiais se movem entre diferentes teatros e departamentos, em oposição à prática atual, na qual a maior parte de sua carreira permanece em uma região militar específica. Nessa área, o principal desafio era confrontar a cultura organizacional que, por décadas, priorizou os interesses das forças terrestres. Isso, de fato, está acontecendo com o Teatro Ocidental, com o PLA rotacionando unidades em Aksai Chin.

Em dezembro de 2016, outra etapa da reforma começou com o anúncio de novas regras e leis para auditoria. Paralelamente, o poder dos auditores de investigar e penalizar infrações foi fortalecido. O objetivo central da ação é prevenir casos de abuso de poder, promover melhor gestão, reforçar a disciplina do Partido e enfatizar valores ideológicos.

Xi Jinping reconheceu que a corrupção em órgãos oficiais era um problema que ocorria desde a década de 1980. Para resolvê-lo, ele moveu os mecanismos de supervisão, auditoria e inspeção para o nível do CMC, alcançando assim maior independência e eficácia. Um exemplo é a Comissão de Inspeção Disciplinar, que se reportará diretamente ao CMC.

Finalmente, para atender à necessidade de melhorar a integração civil-militar, especialmente no setor de ciência e tecnologia, a supervisão da Comissão de Ciência e Tecnologia foi estabelecida pelo CMC. Esta comissão é responsável pela coordenação militar com especialistas civis externos em áreas tecnológicas críticas. Além disso, foi criado o Departamento de Desenvolvimento de Equipamentos (EDD), responsável por inspecionar o desenvolvimento de ferramentas e impulsionar a pesquisa. O EDD visa coordenar a ação com serviços e teatros na determinação de prioridades, sendo sujeito a maior auditoria e inspeção, o que pode ajudar a reduzir a corrupção.

Para melhorar a gestão e supervisão do processo, em janeiro de 2017, o governo formou uma nova Comissão Central para o Desenvolvimento da Integração Civil-Militar, com vistas a reformas que, por um lado, serão capazes de integrar melhor as áreas de pesquisa e desenvolvimento de alta qualidade. tecnologia, beneficiando tanto o PLA quanto o setor de defesa industrial e comercial. Por outro lado, a desmobilização de pelo menos 300.000 membros e o desmantelamento de regiões militares, que existem há décadas.

A modernização do PLA fez grandes avanços na última década e alcançou avanços em áreas-chave, especialmente tecnologia. O pessoal é melhor treinado e qualificado para operações complexas, a doutrina foi atualizada e atualmente enfatiza guerras conjuntas modernas e intensivas em tecnologia. A nova estrutura de Comando e Controle/C2 dá aos comandantes de teatro, tanto em guerra quanto em paz, controle sobre o Exército, Marinha, Força Aérea e de Foguetes dentro de suas áreas de responsabilidade, o que corresponde a um aumento significativo de autoridade, em relação aos comandantes das antigas regiões militares. Ao mesmo tempo, a eliminação de departamentos gerais e a transferência da maioria de suas funções para o CMC reduziram a autoridade de seus comandantes e os tornaram diretamente responsáveis ​​perante o líder do CMC. A ação foi refletida em maior supervisão e melhor fluxo de informações em direção ao topo da organização.

O bom andamento das reformas está amplamente relacionado ao papel centralizador de Xi Jinping, que não só participou de todo o processo de mudança, como também tomou todas as principais decisões. Sua capacidade de pressionar pela implementação das reformas expressava maior autoridade sobre as Forças, que seus antecessores claramente não possuíam. Mesmo diante dos protestos de membros da Força Terrestre, devido à redução de cargos e falhas no programa de remuneração e realocação no mercado de trabalho, ele conseguiu dar continuidade às suas intenções iniciais. Um dos recursos utilizados foi a proteção de oficiais de alta patente, mantendo seus postos e patentes dentro da nova estrutura. Proteger a carreira era um meio importante de neutralizar a oposição às reformas, assim como fazer discursos formais para audiências militares ao lançar reformas-chave.

Assim, por um lado, tentava recrutar apoio daqueles que se beneficiavam das reformas e, por outro, buscava compensar os perdedores, especialmente os membros das Forças Terrestres, que viam seu domínio numérico e orçamentário sofrer contingências. Com maior autoridade e controle sobre o PLA, Xi Jinping utilizou estratégias como: ameaça de investigação, em casos de corrupção, para punir oponentes e promoções de carreira, para recompensar aliados.

Embora o PLA continue a se descrever como parcialmente mecanizado e parcialmente informatizado, a China demonstrou que sua indústria de defesa é capaz de produzir, internamente (ou por meio de engenharia reversa ou replicação), armas, sistemas, componentes e tecnologias que dão à Força maior alcance, perfuração e consciência situacional do que em qualquer outro momento do passado.

Na arena cibernética, embora a China represente uma ameaça significativa de espionagem cibernética às infraestruturas críticas de seus adversários, o PLA ainda se sente vulnerável a ataques e trabalha intensamente para acelerar suas capacidades de defesa. Como parte desse esforço, ele se concentra em melhorar a capacidade de detectar e conter intrusões cibernéticas, salvaguardar redes e sistemas militares e defender a fronteira cibernética nacional. Desta vez, ao longo de 2020, o PLA continuou a perseguir suas ambições de modernização, refinou reformas organizacionais e melhorou sua linha de batalha. Isso inclui: desenvolver a capacidade de conduzir operações conjuntas sofisticadas no espaço, capacidades cibernéticas e a expansão de suas forças nucleares. As reformas de 2024 do PLASSF que ocorreu a dissolução apenas reforçam ainda mais esse compromisso do PLA.

Em 2020, o PCCh anunciou um novo marco para a modernização. Espera-se que, em 2027, o país atue como uma rede, em um sistema de guerras inteligíveis, para, em 2035, “basicamente” concluir sua modernização e, então, em 2049, transformar o PLA em uma força de classe mundial. Essa estratégia está intrinsecamente integrada às ambições de rejuvenescer a nação chinesa até 2049 e projetar poder além da fronteira. Portanto, até 2020 o objetivo era atingir a mecanização. Até 2027, pretende-se acelerar o desenvolvimento integrado da mecanização, informatização, inteligência e, ao mesmo tempo, impulsionar a modernização em teorias militares, organizações, pessoal e equipamento de guerra. Até 2035, o objetivo é concluir a modernização da doutrina, estrutura organizacional, pessoal militar, armas e equipamentos. Assim, até 2049, pretendendo transformar completamente o PLA.

O PLA continua sendo uma organização essencialmente leninista, ou seja, com o propósito central de cumprir as decisões do Partido. Nesse sentido, a Comissão Militar Central ainda é o órgão máximo decisório, juntamente com a infraestrutura de controle do Partido. Os líderes militares continuam pertencendo, em sua maior parte, à Força Terrestre, especialmente nos novos departamentos e teatros. Observa-se também, com base na retomada histórica, que muito do foco da atual rodada de reformas – fortalecimento da capacidade de conduzir operações conjuntas e equilíbrio da composição da força – já havia sido pretendido nas décadas anteriores, ainda em 1980 e 1990.

Assim, o que é único na reforma de Xi Jinping não é a agenda em si, mas sim sua capacidade de superar a resistência burocrática. Com carisma pessoal e táticas políticas, que afastaram oponentes e aproximaram os lealistas, ele atingiu seus objetivos de segurança. Além de fortalecer a relação Partido-ELP, o ELP sairá desse ciclo de reformas mais preparado para conduzir operações conjuntas. Vale destacar, no entanto, que toda essa análise aqui apresentada foi realizada utilizando fontes disponíveis para consulta, tanto primárias quanto secundárias, sendo o acesso, de fato, ao PLA uma fragilidade dessa pesquisa. Sabemos que o Estado chinês não garante a transparência esperada de um processo de transformação militar, os procedimentos e práticas governamentais, bem como a ausência de freios e contrapesos e de clara responsabilização, fornecem pretexto para questionamentos.

Por fim, como reflexão para futuros ensaios, o caso chinês lança luz sobre alguns aspectos da defesa nacional. O primeiro deles é o prestígio que a Comissão Militar Central tem no desenho da Força. A centralidade do processo decisório, nesse órgão, permitiu fortalecer o comando conjunto, algo essencial para a atuação em múltiplos domínios. Em seguida, entender a organização dos teatros de operação com vistas às ameaças. A clareza na delimitação das ameaças permite: maior assertividade na preparação e emprego das tropas; distribuição espacial mais objetiva; e alocação mais transparente de recursos.

Para finalizar, destacam-se as mudanças curriculares, com foco nas áreas tecnológicas, e a criação de universidades de defesa, para dar maior capacitação ao alto comando e às tropas. Hoje, prezam por uma Força enxuta e totalmente especializada.

Fontes:
https://x.com/howardgwang/status/1781368637804155243
https://www.jstor.org/stable/10.2307/resrep23376.7
https://www.airuniversity.af.edu/Portals/10/CASI/documents/Translations/2021-02-08%20Chinese%20Military%20Thoughts-%20In%20their%20own%20words%20Science%20of%20Military%20Strategy%202013.pdf?ver=NxAWg4BPw_NylEjxaha8Aw%3d%3d
https://ssi.armywarcollege.edu/SSI-Media/Recent-Publications/Display/Article/3735300/a-baseline-assessment-of-the-pla-armys-border-reinforcement-operations-in-the-a/
http://www.ebrevistas.eb.mil.br/CEEExAE/article/view/10650/8597
http://www.ebrevistas.eb.mil.br/CEEExAE/article/view/11828/9448

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